Análise a GRAN TURISMO

★★★ - Gran Turismo apresenta-nos uma aventura baseada numa história real que irá agradar aos fãs dos videojogos e desportos motorizados. O destaque vai para as sequências de ação com os automóveis. São verdadeiramente eletrizantes. Já o resto, não irá cativar o restante público.

2023 é o ano que a Sony e, mais concretamente, a marca Playstation querem afirmar a sua presença na indústria cinematográfica. No início do ano tivemos o sucesso estrondoso da adaptação em série do videojogo «The Last of Us» na HBO Max e, agora, em pleno agosto, temos dose dupla: Twisted Metal no streaming e temos também Gran Turismo nas salas de cinema.

Relativamente a Gran Turismo, recordo que esta é a segunda aposta por parte dos Playstation Studios de apresentarem os seus franchises no grande ecrã. No ano passado, tivemos a adaptação em live-action de «Uncharted», que, apesar não ter sido bem recebida pelos críticos da especialidade, a maioria dos fãs gostaram de ver as interpretações Tom Holland e Mark Wahlberg como Nathan Drake e Sully respetivamente. Apesar de ter sido um sucesso na bilheteira, ainda não há confirmação oficial de uma sequela.

Foquemos agora na adaptação do popular simulador de corridas. Para conduzir este projeto, a Sony Pictures escolheu Neill Blomkamp para dirigir esta longa-metragem. No seu currículo, tem filmes como «District 9», «Elysium» e «Chappie», que são provas mais que suficiente das suas valências enquanto realizador.

Surge agora a seguinte questão: como é que pegam neste franchise que é, na sua essência, um simulador de corridas e tornam num filme com cerca de duas horas e 15 minutos?

"Partida. Largada. Fugida!"

O enredo baseia-se na história verídica de Jann Mardenborough, um apaixonado pelo mundo automobilístico e um jogador acérrimo do simulador da Playstation que se torna num piloto profissional de corridas.

É graças à sua experiência no videojogo que Jann tem a oportunidade incrível de poder competir num automóvel verdadeiro graças à iniciativa GT Academy. É uma jornada que testa os seus próprios limites em querer ser constantemente o melhor na pista, enquanto tenta mostrar à sua família que os seus sonhos podem tornar-se realidade.

A longa-metragem tem um início algo aborrecido, porque foca-se demasiado na vida pessoal de Jann Mardenborough - interpretado or Archie Madekwe - e nos seus dilemas familiares. A partir do momento em que Jann vence a prova que lhe dá acesso à GT Academy é que o filme parece que mete a quarta para poder finalmente seguir a viagem na auto-estrada.

A relação de Jann Mardenborough e Jack Salter é outro dos destaques em «Gran Turismo» / DR

É nesta parte que vemos a importância de Jack Salter na trama. Apesar de ser um personagem fictício, a interpretação de David Harbour faz com que seja um alicerce fundamental no percurso de Jann e até do próprio desenrolar da história. Na sua essência, Salter representa o clichê do papel de mentor em filmes do género: é o mestre Miyagi do Karate Kid ou o treinador Mickey da saga Rocky.

Já Orlando Bloom, que faz de executivo de marketing, cumpre os "mínimos olímpicos" e é responsável por colocar algum molho picante no enredo sempre que é necessário.

Os pontos fortes de Gran Turismo

Se há elemento que merece ser destacado são as sequências das corridas com os automóveis. O filme propociona várias cenas em algumas das mais icónicas pistas do mundo como Silverstone ou a Red Bull Ring na Aústria. A inclusão algo discreta dos efeitos sonoros do videojogo e, até, a recriação das perpsetivas da câmara são pormenores que irão estampar sorrisos no rosto dos fãs dos desportos motorizados.

Fora da pista, a rivalidade e a constante picarda com os ditos "pilotos de sofá" e os pilotos profissionais alimentam o drama no enredo, apesar de sucumbir a vários clichês batidos em outros filmes do género.

Realço que o acidente real que Jann Mardenborough sofreu em Nürburgring e que vitimou uma pessoa é abordado. Em termos narrativos, este evento foi tratado com seriedade e evidenciou o fardo que um piloto carrega para o resto da vida quando uma incidente destes ocorre. Foi algo que me surpreendeu para vos ser franco.

Veredito

A adaptação de «Gran Turismo» para o grande ecrã é um pau de dois bicos. Por um lado, o enredo, apesar de ser baseado numa história real, apresenta clichês já algo ultrapassados: os atritos familiares e relação amorosa realçam os aspetos menos bem conseguidos das mais de duas horas de filme.

Por outro lado, quando o foco da longa-metragem são as corridas, «Gran Turismo» prega a fundo no acelerador e parece não mais parar. Não está ao mesmo nível de um «Rush» de Ron Howard ou de um «Ford v Ferrari» de James Mangold, mas também não está ao nível de um «Need For Speed» (alguém ainda se lembra da adaptação com o Paul Walker lançada em 2014?). Aliás, está bem acima da média.

Para fãs do franchise, é absolutamente obrigatório, pois existem vários easter eggs que vão vos deixar com água na boca. É bom entretenimento que enaltece os 26 anos da franquia possui e faz com que peguemos num volante, ligar-nos à Playstation 5 para dar umas voltinhas nos nossos simuladores particulares.

"Isto não é um jogo" como diz Jack Salter e a realização de Neil Bloomkamp permite mostrar esse lado repleto de adrenalina e com momentos tensos durante as corridas. Em suma, creio que Gran Turismo passa no exame de condição, mas tenho dúvidas que será lembrado em anos futuros. Resta saber quais serão as próximas apostas dos Playstation Studios no grande ecrã.